Livros / Books

Livro da Doença.
Lisboa: Relógio D’Água, 2024. / O livro do meu pai. São Paulo: Todavia, 2025.

O impulso original deste livro deu-se quando, após a morte do pai, a autora foi buscar um proverbial (e já lendário na família) romance que o pai alardeou estar a escrever durante décadas. A partir daí — da experiência do luto e da busca imaginativa pelas palavras do pai —, a narradora deste livro único empreende uma meditação sobre a finitude e aquilo que não é acabado, os laços familiares e os sentimentos coletivos, as doenças da alma e a resistência pessoal em períodos turbulentos.

O que é ser uma escritora negra hoje, de acordo comigo.
São Paulo: Todavia, 2023 / Lisboa: Penguin Random House, 2023. / Madrid: La Umbria y la Solana, 2025.


No texto que dá título ao volume, a autora mescla ensaio cultural e pessoal para entender seu espaço no mundo como uma das grandes escritoras da atualidade. Fosse há cinquenta anos, ela estaria onde está, sendo premiada e traduzida mundo afora? A pergunta não é fora de propósito nem dada a questionamentos mais ligeiros. Com dolorosa consciência, Djaimilia Pereira de Almeida reflete sobre seu lugar (como mulher e negra) numa cena em que tais traços de gênero e raça são saudados com efusão, mas muitas vezes de forma superficial, quase publicitária, escamoteando o caráter ora movediço e, portanto, profundamente instável, de ser uma mulher que escreve. Uma mulher negra que escreve.

Toda a ferida é uma beleza. (com Isabel Baraona).
Lisboa: Relógio D’Água, 2023.



“Se há coisa que nunca ninguém descobriu, e não se pode descobrir, é o que é uma menina. Como ninguém o sabe, ninguém sabe dizer com certeza quantas vezes uma menina pode nascer, quantas pode morrer, o que a mata ou o que a traz de novo à vida. Qual a diferença entre uma menina e um sonho? Ambos são esquecidos. Entre uma menina e um pesadelo? Ambos são lembrados. Entre uma menina e um machado? Ambos racham. Entre uma menina e um cão? Ambos ladram. Entre uma menina e um chapéu? Ambos servem a uns e não a outros. Entre uma menina e um cavalo? Ambos dançam. Se há mistério no mundo, é o de saber como as meninas se divertem. Descobri-lo obrigaria a saber dizer com certeza aquilo que um ser que ninguém conhece gosta de fazer para passar o tempo. Uma coisa é certa. Aquilo a que se chama “o mundo” é uma conspiração contra a alegria das meninas, contra as meninas se divertirem e se sujarem, contra o seu gozo e as delícias e silêncios desse gozo.”

Ferry.
Lisboa: Relógio D’Água, 2022.



No ferry, em direcção a sul, Vera e Albano. Fugiam, ainda que não o soubessem. Na margem norte do rio, estava a cidade e os fantasmas de quantos os haviam perseguido, existentes e imaginários. No nevoeiro, tudo isso era difícil de ver. A mulher encostou a cabeça ao ombro do homem e deram as mãos. Em diante, o desconhecido. E, sobre o desconhecido, um anel de neblina nascendo das águas negras.

Três Histórias de Esquecimento.
Lisboa: Relógio D’Água, 2021. / Viviane Hamy Editions, 2024 / Croatia: Fraktura (em breve). / New York: Farrar, Straus & Giroux, 2025.



Três Histórias de Esquecimento nasceu de uma afirmação do filósofo britânico Peter Geach: “Talvez um homem possa perder a sua última chance quando é novo, e depois viver até ser velho: viver contente e sentir-se em casa no mundo, mas aos olhos de Deus estar morto.”
Quem nos salva da possibilidade de, cedo na vida, nos termos desperdiçado? Este tríptico reflecte sobre este desperdício, tomando a vida de três homens. Três homens, encarnações do desespero perante perguntas a que a História não responde. Celestino, um traficante de escravos de regresso a casa, emparedado num jardim, em A Visão das Plantas; Boa Morte da Silva, arrumador de carros, ex-combatente da Guerra Colonial, deixado à sua sorte numa rua de Lisboa, em Maremoto; Bruma, duplo fantasioso do escudeiro negro que lia histórias ao pequeno Eça de Queiroz, em Bruma. As vidas de Celestino, Boa Morte da Silva e Bruma esfumam as certezas e abraçam as contradições. Fantasmas guardados dentro dos livros, alegorias da escrita e da leitura, que estas Três Histórias tentam fazer regressar ao nosso espanto.

Os Gestos.
Lisboa: Relógio D’Água, 2021.



Os Gestos reúne notas de regresso a casa sob a forma de migalhas deixadas no caminho. Anotações biográficas, ficções curtas, ensaios mínimos, fixações, sinais, lembretes, bilhetes, notas de leitura, acenos: memorabilia das mãos que nos dão a mão quando caímos.

Maremoto.
Lisboa: Relógio D’Água, 2021 / Zurique: Unionsverlag, 2023.



Ela vive na Rua do Loreto, na paragem do 28. Ele, o combatente, estaciona carros ruas abaixo, na António Maria Cardoso. Maremoto narra a amizade entre ambos, avô e neta acidentais, catástrofe e salvamento. De Lisboa a uma Bissau imaginada, Boa Morte da Silva, arrumador de carros, arruma a sua vida, escreve-se, dirigindo-se à filha que mal conhece. “Vou cegar minha dor para a minha dor não encontrar teu coração. Que a minha dor nunca encontre o teu caminho, Aurora. Que a minha dor nunca te encontre.”

Regras de isolamento (com Humberto Brito).
Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, Colecção Retratos, 2020.



Uma escritora e um fotógrafo, um casal, vivem em torno da casa, fechados em casa, durante o estado de emergência. Combinando anotações fotográficas com ficções, ensaios e crónicas, compõem este «Regras de isolamento», o registo muito pessoal da passagem desses dias. Reflexão sobre a pandemia, a conjugalidade e a vida fora do centro, este livro é não só um diário do confinamento e da quarentena, mas também uma reflexão existencial. Porque foi composto e escrito «na barca do presente», à procura do que nos ajuda a vivermos o tempo que nos foi destinado. Quem nos ajuda, desde que abrimos os olhos pela primeira vez e, depois, quando estamos frágeis nos nossos abrigos? Quem nos estende e a quem estendemos a mão, quando temos medo, apesar de o céu estar na mesma? Talvez precisemos de uma vida inteira para o perceber.

As Telefones.
Lisboa: Relógio D’Água, 2020.



“Um dia, ainda vamos ter férias de cruzeiros, filha, vais ver. Um dia, ainda vamos num desses barcos com piscina comer bolinhas de melão, beber champanhe, o mambo todo, nós duas pretas finas e uns criados de lacinho a encherem-nos as taças. A Mamã acredita, filha. Deus é fiel. Vai chegar a nossa vez. Férias mesmo já estão no fim, eh, filha. Passou rápido. Passa bem rápido. Não chora, não. Tempo corre, corre. Mas a Mamã sabe, filha. Um dia, vamos.”

A Visão das Plantas.
Lisboa: Relógio D’Água, 2019  / São Paulo: Todavia, 2021 / Zurique: Unionsverlag, 2022 / Buenos Aires: Edhasa, 2023 / Lima: Codigo Placebo (em breve).



Esta é a história de capitão Celestino, homem cujo passado de brutalidade e violência assombrosas é substituído, no crepúsculo da vida, por um amor delicado e cuidadoso pelas plantas de seu jardim. De volta a Portugal, e com a consciência pesada pelas monstruosidades que cometeu, o capitão retorna à casa de sua infância. Na vizinhança, as pessoas conhecem seus malfeitos, então poucos se atrevem a se aproximar. Somente o padre Alfredo é um visitante regular: quer levar o homem para se confessar, mas o único assunto que interessa a Celestino é mesmo o esplendor de seu roseiral.

Pintado com o pé.
Lisboa: Relógio D’Água, 2019.



O título deste livro é roubado à legenda de um postal, que me pareceu, a certa altura, um bom conselho literário. Relendo estes textos, escritos entre 2006 e 2018, pareceu-me folhear uma colecção de postais desses anos. Não saberia dizer se cheguei a enviá-los, nem a quem se dirigem, o que talvez diga um pouco sobre quem os escreveu e um pouco sobre eles.

Luanda, Lisboa, Paraíso.
Lisboa: Companhia das Letras Portugal, 2018 / São Paulo: Companhia das Letras, 2019 / Sichuan Literature & Art, 2022 / Slovakia: Portugalský Inštitút, 2022 / New York: Farrar, Straus & Giroux (em breve) / São Paulo: Todavia, 2026.


“De Portugal, a cidadania dos mortos foi o seu único visto de residência.” Chegados a Lisboa em junta médica, Cartola e Aquiles descobrem-se pai e filho na desventura, sobrevivendo ao ritmo da doença, do acumular de dívidas e das cartas e telefonemas trocados com a família deixada em Luanda. Até que num vale emoldurado por um pinhal, nas margens da cidade mil vezes sonhada pelo velho Cartola, encontram abrigo e fazem um amigo. Será esta amizade capaz de os salvar? “Se o entendimento entre duas almas não muda o mundo, nenhuma ínfima parte do mundo é exactamente a mesma depois de duas almas se entenderem.” Luanda, Lisboa, Paraíso, o segundo romance de Djaimilia Pereira de Almeida, é o balanço tocante de três vidas simples, em que esperança e pessimismo, desperdício e redenção, surgem lado a lado numa sequência de tableaux sombrios, doces e trágicos.

Ajudar a cair.
Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, Colecção Retratos, 2017.

Paralisia cerebral. Conhecemos as palavras. Mas o que sabemos sobre quem as humaniza? Longe do nosso olhar, no Centro Nuno Belmar da Costa, a dignidade humana materializa-se a cada minuto. Num ritmo que não se compadece com o tempo veloz em que vivemos, David escreve uma carta, Dulce bebe um café, Clarinha desenha um C. Residentes e funcionários, ao lado dos quais a autora trabalhou, vão mostrar-nos — à beira da piscina, no quarto ou à mesa — que o dia a dia vai muito além do «viver com a doença» a que resumimos a paralisia cerebral. Há riso, sol, e uma mão que se estende. Afinal, de que é feita a dignidade humana, senão do respeito e do amor com que o outro, mais do que amparar, nos ajuda a cair?

Esse cabelo.
Lisboa: Teorema, 2015 / Rio de Janeiro: Leya Brasil, 2017 / Portand: Tin House Books, 2020 / Lisboa: Relógio D’Água, 2020 / São Paulo: Todavia, 2022 / Roma: La Nuova Frontiera, 2022 / Copenhaga: Aurora Boreal, 2023 / Valência: Lletra Impresa Edicions, 2022 / Buenos Aires: Edhasa, 2022. Egipt: Al arabi, 2023 / Lima: Codigo Placebo (em breve).



“O livro do cabelo, no entanto, exigiria o esforço de deixar a literatura à porta, como o meu marido esperando-me ao longo dos anos em quatro automóveis diferentes e ligando-me para perguntar se já me despachei, com receio de se dar a ver às raparigas dos salões, tantas vezes preconceituosas, ficando no carro para me proteger de reparos, ouvindo rádio, mexendo no telefone, fazendo tempo. No livro do cabelo, a literatura faz tempo no carro e olha-me sem me reconhecer à primeira quando entro perguntando-lhe se gosta.”