A Visão das Plantas
2019


Os últimos dias de Capitão Celestino, figura da infância de Raul Brandão, no seu jardim.


“Estaria o capitão atrás da romãzeira? Seria ele a sombra, ou fora um rato, ou um lobo, o velho, pingando suor, caindo ao chão, e ela ao fundo, sem o amparar, numa lua‐de‐mel pelo campo enquanto a casa os esperava do outro lado do ribeiro, noiva dos seus últimos dias, que viera para o ensinar a partir, deixando‐o tomar o seu tempo, capitão, capitão, tão cego, tão longa a tarde e ele tão velho e ela tão paciente, que a sua mis‐ são era ver morrer o noivo, os pulmões, o fígado, o coração a saltarem‐lhe da boca, “Capitão? Estais aí?”. Do capitão, nada. A noite caindo de novo e os dois a monte, mas vendo‐o qua‐ se menino, assustado, desfeito, em desespero, ela sentou‐se e estendeu a saia no chão e deitou‐o nela, pôs‐lhe a cabeça nos joelhos, deu‐lhe festas na cara, fechou‐lhe o olho com as mãos, aqueceu‐o com o ar que lhe saía da boca, soprando no seu pes‐ coço como uma ama ao seu menino, adiando por mais um dia, mais uma hora, mais uma noite, a partida do noivo. “Capitão”, gemia ele e, quase adormecendo, tremia.” 


Was the captain behind the pomegranate tree? Was he the shadow, or was it a rat, or a wolf, the old man, dripping with sweat, falling to the ground, and she hanging back, not assisting him, in a honeymoon through the countryside while the house awaited them on the other side of the stream, bride of his last days, come to teach him to leave, allowing him to take his time, Captain, Captain, so blind, so long the afternoon and he so old and she so patient, for her mission was to watch her groom die, for his lungs, his liver, his heart to leap from his mouth, “Captain? Are you there?” From the captain, nothing. Night falling again and the two of them out in the elements, but seeing him almost a child, frightened, flustered, desperate, she sat down and spread her skirt out on the ground and laid him down on it, put his head on her knees, stroked his face, closed his eyes with her hands, warmed him with the air coming out of her mouth, blowing on his neck like a nursemaid on her boy, putting off for one more day, one more hour, one more night, her groom’s departure. “Captain,” he moaned and, almost asleep, shuddered.
(Alison Entrekin, trans.)



Lisbon: Relógio D’Água, 2019 / São Paulo: Todavia, 2021 / Zurich: Unionsverlag, 2022.
























Joel Sternfeld, A Blind Man in His Garden, Homer, Alaska, 1984-1987.