Três Histórias de Esquecimento
2021
Três Histórias de Esquecimento inclui as novelas A Visão das Plantas, Maremoto e Bruma. Nasceram de uma afirmação do filósofo britânico Peter Geach: “Talvez um homem possa perder a sua última chance quando é novo, e depois viver até ser velho: viver contente e sentir-se em casa no mundo, mas aos olhos de Deus estar morto.” Quem nos salva da possibilidade de, cedo na vida, nos termos desperdiçado? Este tríptico reflecte sobre este desperdício, tomando a vida de três homens. Três homens, encarnações do desespero perante perguntas a que a História não responde. Celestino, um traficante de escravos de regresso a casa, emparedado num jardim, em A Visão das Plantas; Boa Morte da Silva, arrumador de carros, ex-combatente da Guerra Colonial, deixado à sua sorte numa rua de Lisboa, em Maremoto; Bruma, duplo fantasioso do escudeiro negro que lia histórias ao pequeno Eça de Queiroz, em Bruma.
“Quando a chuvada a deitou abaixo, Bruma leu sentado nas poças. Quando o granizo rebentou como pólvora, Bruma leu sobre o gelo. Quando foram os caçadores que a tomaram, Bruma leu nas ruínas e não se lembrou de ter pena. Quando o fogo a queimou, Bruma leu sobre as cinzas. Quando os saltimbancos fizeram dela seu pouso, o escravo leu sentado no ramo do plátano e vigiou‐lhes os passos.”
When the rain tore it down, Bruma read sitting in puddles. When the hail blasted it like gunpowder, Bruma read on the ice. When it was hunters that had taken it, Bruma read in the ruins and didn’t remember to feel sad. When the fire burned it down, Bruma read in the ashes. When the mountebanks made it their abode, the servant read sitting on a branch of the plane tree and kept an eye on their movements. (Alison Entrekin, trans.)
Lisbon: Relógio D’Água, 2021. / EUA: Farrar, Straus & Giroux (Forthcoming).